“MSF está se tornando uma organização de aprendizado.”

Enquanto trabalhou como diretor de operações de Médicos Sem Fronteiras (MSF) entre 2011 e 2018, o médico Bart Janssens percebeu a necessidade de elaborar uma estratégia para a capacitação de profissionais que trabalham com a organização e são contratados nas regiões onde são realizados os projetos. Hoje, Bart dirige a Academia de Saúde de MSF, fundada em 2017.

Qual o objetivo de MSF com essa iniciativa?
O objetivo é profissionalizar o trabalho de quem é contratado localmente, treinando essas pessoas segundo os padrões e protocolos de MSF. Há países onde não conseguimos encontrar profissionais qualificados suficientemente para atuar em nossos projetos e essa formação é uma oportunidade de capacitar a mão de obra local. Consultamos as autoridades do país para validar os créditos da formação na Academia de Saúde, de acordo com sua grade curricular. Com isso, os estudos na Academia são úteis para além do trabalho com MSF, oferecendo aos profissionais uma especialização reconhecida em seus países de origem.

O que exatamente é a Academia?
A Academia de Saúde é uma capacitação que acontece em parceria com universidades. A formação presencial é feita em Gana, para quem fala inglês, e na Costa do Marfim, para aqueles que têm o francês como idioma. Uma turma de 50 enfermeiros e obstetrizes de Serra Leoa, por exemplo, está encerrando um estudo de 18 meses em Gana, com uma bolsa de estudos concedida por MSF. A maior parte do treinamento será realizada agora em nossos projetos, e, em breve, eles voltarão ao trabalho em nosso hospital. A prioridade é oferecer capacitação para profissionais de países em que temos mais dificuldade de recrutamento e nas áreas em que temos mais demanda. Por isso, começamos com a formação de enfermeiros que trabalham no departamento de internação (enfermagem hospitalar) provenientes do Sudão do Sul, da República Centro-Africana, de Serra Leoa e da República Democrática do Congo. Para todo o curso, usamos metodologias de ensino para adultos, com grande foco em mentoria. Em muitos hospitais, a Academia treina os profissionais para que possam ser mentores de seus colegas.

Quais são os programas de formação da Academia?
Com base em nossas necessidades em campo, decidimos que as duas primeiras formações seriam para enfermeiros. Para a formação em enfermagem hospitalar, que já teve início em 2018, nossa meta é ter pelo menos 1.500 enfermeiros treinados ou em treinamento, nos quatro países que mencionei anteriormente, até 2021. Também temos um projeto de treinamento de enfermeiros anestesistas, um profissional fundamental para uma organização em que cirurgias são grande parte do trabalho. Os outros dois cursos são programas de pós-graduação voltados para profissionais mais experientes e que devem começar a partir de 2020. O primeiro deles é de capacitação para cargos de gerência médica. Já o segundo é uma especialização em doenças infecciosas. Nos dois casos, mais da metade do curso é prático, enquanto os profissionais trabalham em campo. Todo o currículo é adaptado à realidade das necessidades encontradas em nossos projetos.

Como a iniciativa tem sido recebida pelos profissionais de MSF?
É incrível a motivação dos profissionais inscritos nos programas. Eles são os maiores entusiastas do projeto. Na República Centro-Africana, por exemplo, 32 enfermeiros são colegas de estudos em oito hospitais, que têm cerca de 250 enfermeiros. São profissionais motivados, que se tornaram mentores de seus colegas. Com tudo isso, já percebemos uma melhora na motivação da equipe e na qualidade do atendimento a nossos pacientes.

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