Editorial
ANA DE LEMOS - DIRETORA-GERAL DE MSF-BRASIL
A resposta a emergências é central na atuação de Médicos Sem Fronteiras (MSF). Estamos preparados para atender a diferentes necessidades humanitárias em até 72 horas, em qualquer região do mundo. Mais do que qualquer meta, em nosso trabalho a eficiência cumpre um objetivo muito claro: aliviar o quanto antes o sofrimento das populações que assistimos e levar cuidados médicos que podem salvar vidas.
Em tragédias como o rompimento da barragem em Brumadinho, em Minas Gerais, ou a destruição provocada pelo ciclone Idai, em Moçambique, uma resposta rápida é fundamental para amenizar ou evitar os impactos que um acontecimento dessa magnitude causa na vida das pessoas. Em Brumadinho, nossas equipes identificaram a necessidade de suporte psicossocial e treinaram profissionais locais no atendimento de saúde mental em desastres. Em Moçambique, a necessidade de ajuda expressiva englobou diferentes áreas de nossa atuação. Logo nos primeiros dias, profissionais de MSF com experiência em emergências já estavam na cidade de Beira, que teve 90% de seu território atingido, para definir as prioridades na resposta de emergência. Você terá mais informações sobre nossa atuação nesses dois casos na seção “Destaques” desta revista.
Na seção “Em foco”, você verá imagens de nosso trabalho no tratamento de pacientes com Ebola na República Democrática do Congo. A atual epidemia é a pior da história do país — e, no mundo, só comparável à grande epidemia de Ebola na África Ocidental entre 2014 e 2016 — e já matou mais de 700 pessoas.
Vemos com frequência crises que emergem repentinamente, mas também aquelas que perduram por um tempo demasiado longo como resultado de políticas inaceitáveis. Em 2017, quase 70 milhões de pessoas foram deslocadas à força, segundo dados da Organização das Nações Unidas. São pessoas que tiveram que abandonar suas raízes e referências em busca de segurança e de melhores perspectivas de futuro, mas são confrontadas com mais sofrimento ao longo de suas jornadas. Como disse nossa presidente internacional, Joanne Liu, no encontro do Pacto Global sobre Migração, as pessoas continuam a migrar apesar das políticas restritivas. O resultado das barreiras impostas é deixar os migrantes vulneráveis a autoridades corruptas e a criminosos, que lucram com seu desespero em chegar a algum local em que possam reconstruir sua vida.
Essas histórias se repetem da Líbia, onde atendemos pessoas presas arbitrariamente em centros de detenção por tentarem cruzar o mar para chegar à Europa, até o México, onde cuidamos de pessoas expostas a todo tipo de violência em seu trajeto rumo ao norte. Na matéria de capa, você encontrará relatos de pessoas que viveram experiências como essas em várias partes do mundo. É preciso lembrar sempre que falamos de pessoas, e não de números. E essas são apenas aquelas que conseguiram chegar até nós.