“Meses depois do início do influxo, as necessidades básicas ainda são a prioridade.”

Pavlo Kolovos

Pavlo Kolovos é coordenador-geral de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Bangladesh. A seguir, ele fala sobre o recente influxo de refugiados que chegaram ao país por causa da violência em Mianmar, país vizinho.

Ataques contra uma estação de polícia no estado de Rakhine, Mianmar, evoluíram para uma onda de repressão e violência contra a minoria rohingya. Vilarejos e casas foram incendiados, incluindo três das quatro clínicas de MSF. Pavlo Kolovos fala sobre o contexto atual e as histórias daqueles que conseguiram fugir e chegar a Bangladesh.

PAVLO KOLOVOS, Coordenador-Geral de MSF em Bangladesh

Foto: Jeroen Oerlemans

1. Qual era a situação em Cox’s Bazar antes do recente influxo de refugiados?

MSF mantém uma clínica no campo de refugiados de Kutupalong desde 2009. A chegada de refugiados rohingyas era quase constante. Na clínica de Kutupalong, oferecíamos cuidados ambulatoriais e de internação, serviços de saúde sexual e reprodutiva e assistência de saúde mental. Metade dos pacientes atendidos na clínica costumavam ser da população anfitriã.

2. Quem são as pessoas fugindo de Mianmar?

A população rohingya é uma minoria étnica muçulmana que, em sua maioria, é do estado de Rakhine, em Mianmar. Ao longo dos anos, sofreram grave violência, incluindo discriminação, perseguições, assassinatos, monopolização de terras e extermínio de rebanhos. Em 25 de agosto, o exército de Mianmar iniciou uma série de operações de varredura após ataques realizados por militantes rohingyas em postos avançados da polícia de fronteira. Seus vilarejos foram sistematicamente invadidos e incendiados, e homens, mulheres e crianças foram torturados, assassinados e estuprados.

3. O que mudou depois de 25 de agosto?

Desde esse dia, mais de 646 mil pessoas fugiram para Bangladesh em busca de segurança. Com isso, os dois acampamentos já existentes, Kutupalong e Balukhali, se fundiram em um só campo densamente povoado. Aproximadamente 446 mil recém-chegados instalaram abrigos informais em Kutupalong/Balukhali. O restante das pessoas está vivendo em outros assentamentos improvisados e entre a comunidade anfitriã. Por causa da velocidade sem precedentes e da escala do influxo, as pessoas são forçadas a viver em locais totalmente superlotados, enfrentando condições precárias de vida.

4. Quais são as principais necessidades e preocupações?

Meses depois do início do influxo, as necessidades básicas ainda são a prioridade. Isso inclui o acesso a água limpa, saneamento, alimentos, abrigo e cuidados de saúde. A principal preocupação continua sendo o risco do surto de alguma doença. Uma epidemia pode se disseminar facilmente nesse ambiente e ser desastrosa. Observamos um aumento contínuo do número de casos de sarampo, com 1.937 até o início de dezembro. Desde o fim de novembro, estamos presenciando o início de uma epidemia de difteria, o que pode resultar em grande número de mortes. Essas doenças evitáveis por vacinas são mais um exemplo da escassez de cuidados de saúde de rotina enfrentada pela população rohingya em Mianmar.

5. O que MSF está fazendo em Cox’s Bazar?

MSF tratou mais de 142.980 pacientes entre o fim de agosto e novembro e conta com cerca de 2.300 profissionais no distrito de Cox’s Bazar. Até dezembro de 2017, tínhamos montado mais de 20 novas instalações de saúde nos acampamentos. Em resposta ao número crescente de casos de sarampo e de outras doenças infecciosas, a organização está trabalhando na ampliação da capacidade de isolamento na maioria de suas instalações. No início de dezembro, a instalação de internações em Balukhali foi transformada em um centro de tratamento de difteria.

Além da resposta médica, melhorar as condições de água e saneamento é parte importante de nossos esforços para conter a disseminação de doenças. Entre o fim de agosto e novembro, MSF montou e instalou mais de 1.240 latrinas e cerca de 260 bombas de água, além de levar, com caminhões-tanque, dezenas de milhares de litros de água para os acampamentos todos os dias.

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