DIRETO DA REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA

Viviane Mastrangelo - Logística e arquiteta

Nos dois anos em que estou com Médicos Sem Fronteiras (MSF), já atuei como logística e como arquiteta — minha formação. Em 2015, fui para Bangassou, na República Centro-Africana (RCA), para meu primeiro trabalho com MSF. Na época, Bangassou era considerada uma “ilha” de estabilidade no país, e, tendo planos de ficar por alguns anos, MSF resolveu investir na reabilitação e expansão do hospital regional. Fui trabalhar na preparação das plantas para a construção “tradicional” em tijolo e concreto, que levaria dois anos.

Dois anos se passaram e a construção está parada. Boa parte da obra avançou, mas dois grandes edifícios não puderam ser finalizados. Batalhas entre grupos armados locais tornaram a presença de nossa equipe inviável e obrigaram o fechamento do projeto por tempo indeterminado.

Construtores instalam a estrutura do telhado no novo departamento de emergência do hospital de Médicos Sem Fronteiras em Bangassou

Foto: Borja Ruiz Rodriguez/MSF

Sendo uma organização médica com resposta a urgências, MSF desenvolveu técnicas para disponibilizar o atendimento médico necessário o mais rápido possível. É o caso das tendas e dos hospitais infláveis. Mas, depois que o estado de emergência passa e os projetos tornam-se estáveis, é preciso melhorar a qualidade de conforto para pacientes e funcionários, além de seguir níveis elevados de higiene e controle de infecção.

Não é comum encontrar os padrões de construção esperados para uma estrutura hospitalar. Com isso em mente, a equipe de construção de MSF pesquisou técnicas construtivas adaptáveis a diferentes contextos, com uso variável, de rápida construção e que respondam ao que se espera de uma estrutura hospitalar: conforto térmico, materiais de fácil limpeza, boa circulação de ar e iluminação.

Iniciamos, então, o projeto Modul(h)o, uma técnica construtiva pré-fabricada, baseada em uma estrutura modular de alumínio que vem desmontada dentro de dois contêineres de seis metros. Entretanto, não é fácil trazer da Europa vários contêineres para lugares onde o acesso de carro é impossível. Minha primeira construção Modul(h)o foi em Maban, no Sudão do Sul, onde o acesso é feito por avião de médio porte. Ou seja, em vez de receber 18 contêineres fechados, bem-organizados e com a identificação de cada peça, recebemos 10 aviões nos quais as peças estavam todas misturadas ou mesmo danificadas.

Em 2018, vou para Serra Leoa para a construção de um hospital em Kenema. Serão 26 módulos no total. Lá, o maior desafio é que a maior parte da equipe médica faleceu durante o último surto de Ebola. Um dos objetivos de MSF agora, com a construção do hospital, é prover formação técnica a uma nova equipe local.

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