A inovação que nasce com os desafios

Emmanuel Guillaud

Todos os dias, as equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) enfrentam enormes desafios em todo o mundo, desde combater o Ebola na República Democrática do Congo até dar apoio a centenas de milhares de refugiados rohingyas em Bangladesh ou prestar assistência médica a pessoas no Iêmen devastado pela guerra. Em contextos tão voláteis, MSF precisa adaptar-se constantemente e buscar maneiras novas e criativas de atender às crescentes necessidades.

Equipes de MSF trabalham diariamente para encontrar soluções para desafios na oferta de assistência médica de primeira linha. A inovação faz parte de nosso DNA há muito tempo. Já em 1981, em campos de refugiados na Tailândia, MSF desenvolveu kits médicos prontos para uso que foram feitos sob medida para emergências, condições geográficas e climas específicos. Em 1987, a organização estabeleceu um centro de pesquisa epidemiológica, o Epicentro; em 1999, criou a Iniciativa Acesso a Medicamentos; e, em 2003, cofundou a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), uma instituição de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos sem fins lucrativos.

Outros exemplos de inovações que salvam vidas incluem os hospitais infláveis, que se tornaram essenciais para que possamos agir rapidamente em áreas onde os serviços de saúde foram afetados, como após um terremoto; o uso de alimentos terapêuticos prontos para consumo para tratar crianças gravemente desnutridas; e o projeto de telemedicina de MSF, que permite que nossas equipes em campo recebam apoio de especialistas médicos em todo o mundo por videoconferência.

Como os desafios médicos e humanitários continuam a crescer e estão se tornando cada vez mais complexos, a liderança de MSF reconheceu a necessidade de investir ainda mais em inovação. Em 2016, lançamos o Fundo de Investimento Transformacional (CIT) para melhorar nossa capacidade de prestar assistência às pessoas afetadas por conflitos, epidemias, desastres ou exclusão dos serviços de saúde. Qualquer membro da equipe, nos escritórios ou em campo, pode propor ideias ou soluções que resolvam os problemas detectados. Se aprovado, o projeto será financiado e apoiado pela equipe do CIT. Atualmente, 36 projetos transformacionais estão sendo implementados em todo o mundo, e muitos estão mostrando resultados promissores nas áreas de pesquisa e desenvolvimento médico, melhorias operacionais e tecnológicas, ganhos de eficiência e recursos humanos.

Um exemplo disso é um dispositivo de ultrassom fácil de usar e portátil que pode substituir máquinas caras e volumosas e aumentar nossa capacidade de diagnosticar e tratar pacientes em condições remotas e instáveis. Outra equipe do CIT está testando unidades de ar condicionado movidas a energia solar que poderiam reduzir nossa dependência de geradores a diesel caros e não confiáveis. Um projeto do CIT desenvolvido no Brasil é a Migration History Tool, uma ferramenta móvel que pode ajudar a cruzar informações sobre jornadas migratórias com dados sobre as condições médicas e pontos de vulnerabilidade para populações migrantes. Isso nos ajudará na tomada de decisões em nossos projetos para migrantes. MSF também está colaborando com a DNDi para testar um esquema de medicamentos novo e acessível para a hepatite C, a nona principal causa de mortes em países de baixa e média renda, que demonstrou uma taxa de cura de 97% em ensaios clínicos.

Se os projetos-piloto forem bem-sucedidos, eles serão ampliados para realmente transformar o modo como MSF oferece ajuda humanitária a populações vulneráveis em todo o mundo.

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