EDITORIAL

Ana de Lemos - Diretora-executiva de MSF-Brasil

São muitas as situações extremas a que migrantes, refugiados e solicitantes de asilo são submetidos quando tomam a difícil decisão de deixar toda a sua vida para trás em busca de segurança e condições de vida mais dignas. Guerras e conflitos, crises econômicas, perseguições e violência, fome, episódios climáticos severos… hoje, cerca de 84 milhões de pessoas no mundo foram forçadas a deixar suas casas, estima a Organização das Nações Unidas (ONU). Esse é o maior número na história, e é por isso que refúgio e migração são os temas da matéria de capa desta edição.

Embora, em um momento inicial, o trajeto migratório e a chegada ao local de refúgio possam “aliviar o sofrimento”, são muitos os desafios e as dificuldades que essas pessoas encontram durante suas jornadas em busca de sobrevivência: medo, insegurança, separação de familiares, redução do acesso à saúde, educação e alimentação, aculturação e até restrição de sua liberdade de movimento, em alguns casos.

As equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) ao redor do mundo testemunham diariamente os imensos impactos emocionais e físicos na saúde das pessoas provocados pelos deslocamentos forçados. Graças ao apoio de pessoas como você, trabalhamos pelo mundo para oferecer aos migrantes, refugiados e às pessoas que se deslocam internamente por seus países em decorrência da guerra e de outros fatores extremos os serviços de saúde e as assistências de que mais precisam.

Administramos centros de alimentação terapêutica para crianças com desnutrição, atendemos pacientes com ferimentos de guerra, enviamos suprimentos médicos e não médicos de emergência, levamos apoio à saúde mental, oferecemos serviços de saúde materna e neonatal, consultas ambulatoriais, treinamos profissionais de saúde em atendimento para vítimas em massa e trauma… Atuamos do Afeganistão à Ucrânia, na Síria, no Mediterrâneo, em Moçambique, no México, na Venezuela, no Brasil e em muitos outros lugares. Onde as maiores necessidades estão e onde podemos ser mais úteis, lá estamos e estaremos. E isso só é possível graças à sua ajuda.

Outro desafiador cenário em que atuamos e que vamos abordar nesta edição é o de saúde sexual e reprodutiva adolescente. A educação integral em sexualidade (EIS) é um direito do adolescente. Ele precisa compreender os processos físicos, neurológicos e emocionais de desenvolvimento vivenciados durante a puberdade. Isso é imprescindível para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, gravidez precoce, entre outros fatores, que podem impactar direta e indiretamente suas vidas, muitas vezes de forma irreversível. Por isso, conversamos com a especialista no assunto, a diretora da Unidade Médica Brasileira de MSF-Brasil (Bramu), Jennifer Marx.

Nesta edição, em artigo assinado pela gerente de Advocacy e assuntos humanitários de MSF-Brasil, Vitória Ramos, falaremos sobre um problema de saúde pública ainda não enfrentado, a doença de Chagas, que assola entre seis a sete milhões de pessoas no mundo e é endêmica nas Américas. Se não diagnosticada e tratada, a doença pode causar problemas no coração e no sistema digestivo por anos após a infecção. No entanto, ela tem cura e tratamento, e a cura para essa doença só é possível com o diagnóstico precoce, por isso, a informação é a melhor forma de combatê-la.

Direto de Bruxelas, na Bélgica, a brasileira Mina Kanashiro fala sobre a logística de envio de material médico e não médico do Centro de Distribuição Logística de MSF no país às emergências em que atuamos, como a guerra na Ucrânia, por exemplo. E porque nossa prioridade é oferecer cuidados de saúde de qualidade a nossos pacientes, somos uma organização com ideias. Portanto, a inovação também está em pauta nesta edição. Temos o prazer de lhe apresentar algumas tecnologias que nos ajudam a salvar vidas ao redor do mundo. Porque, sem seu apoio, nada disso seria possível. Por isso, agradecemos imensamente a confiança depositada em nosso trabalho.

Muito obrigada.

Quero ajudar
Toda ajuda é muito importante para nós