Nº Relatório Anual 2021.

2021 o ano em foco

Por Ahmed Abd-elrahman, dr. Marc Biot, Akke Boere, William Hennequin, dr. Sal Ha Issoufou, Christine Jamet, Teresa Sancristoval Diretores de operações de MSF

Em 1971, um grupo de médicos e jornalistas fundava Médicos Sem Fronteiras (MSF), dando os primeiros passos da organização na oferta de ajuda médico-humanitária imparcial e independente. Em 2021, 50 anos depois, mais de 63 mil pessoas continuaram trilhando esse caminho em projetos espalhados por mais de 70 países.

Ao longo do ano, a região de Tigray, na Etiópia, demandou muitos de nossos esforços. O conflito continua impondo o deslocamento forçado e impedindo o acesso das pessoas a cuidados de saúde. Nossas equipes também foram alvo da violência: em junho, Tedros Gebremariam Gebremichael, Yohannes Halefom Reda e María Hernández Matas foram brutalmente assassinados. Essa violência, somada às restrições impostas por autoridades e aos ataques da mídia contra organizações não governamentais (ONGs), limitou nossa atuação no país.

A crise política em Mianmar, após a tomada do governo por militares, dificultou o envio de profissionais, suprimentos e dinheiro para as operações. No Afeganistão, após a retomada do poder pelo Talibã, continuamos respondendo às necessidades médicas crescentes diante da suspensão do financiamento internacional ao país e de uma crise econômica agravada pela seca, que levou ao aumento do número de crianças desnutridas.

Em resposta à pandemia de COVID-19, nossas equipes ampliaram as atividades em Síria, Iêmen, Peru, Índia, Brasil, África do Sul e Venezuela, entre outros, em 2021. Estivemos envolvidos também com campanhas de vacinação em países como Líbano, Tunísia e Reino de Essuatíni.

Em atenção aos migrantes, oferecemos cuidados àqueles que atravessaram a perigosa selva de Darién, na fronteira entre Colômbia e Panamá, única rota terrestre entre as Américas do Sul e Norte; aos solicitantes de asilo que se viram encurralados entre Polônia e Belarus; e na Líbia, onde suspendemos atividades de junho a setembro por causa da grave violência testemunhada nos centros de detenção. As operações de busca e salvamento continuaram ativas no Mediterrâneo, com o navio Geo Barents, fretado por MSF.

A disseminação da violência continua infligindo sofrimento na região do Sahel e no noroeste da Nigéria — de onde milhares de pessoas foram forçadas a cruzar a fronteira para o Níger. Lá, atendemos um número sem precedentes de crianças com desnutrição grave. No Mali, tivemos uma ambulância atacada, resultando na morte de um paciente. A violência crônica impacta outras regiões do continente africano, como o nordeste da República Democrática do Congo (RDC) — onde, em Ituri, tivemos um comboio atacado e dois profissionais feridos —; a província de Cabo Delgado, em Moçambique; a República Centro-Africana (RCA); o Sudão do Sul; e as regiões anglófonas de Camarões — no noroeste do país, MSF foi forçada a retirar suas equipes.

A situação no Haiti se deteriorou significativamente em 2021, com o assassinato do presidente, em julho, e o terremoto, em agosto. Gangues armadas dominaram as ruas, e sequestros, violência e assassinatos se tornaram eventos frequentes.

Os campos para pessoas deslocadas em Bentiu e Mayom, no Sudão do Sul, foram afetados por graves inundações em 2021. Nossas equipes ofereceram cuidados emergenciais e distribuíram itens de primeira necessidade. Algumas regiões do Níger também sofreram com inundações, elevando o número de casos de malária e desnutrição. No outro extremo, a seca em regiões da Somália e o desmatamento que agravou a seca em Madagascar prejudicaram as colheitas, aumentando os índices de desnutrição.

No final de outubro, divulgamos os resultados do ensaio clínico que provou a efetividade de um novo regime de tratamento de seis meses e exclusivamente oral para a tuberculose resistente (TB-DR): quase nove em cada dez pacientes se curaram da doença. Os resultados motivaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) a atualizar o protocolo de tratamento da TB-DR — o que está em vigor leva dois anos e envolve injeções diárias, que causam efeitos colaterais e curam apenas metade dos pacientes.

Após 50 anos, continuamos pautando nossa atuação pelos princípios da independência e da imparcialidade, motivados pelo mesmo espírito humanitário que inspirou nossos fundadores. E, em 2022, não vai ser diferente.

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