A Resposta ao Ebola na República Democrática do Congo

Por dra. Mercedes Tatay

Por que as novas ferramentas médicas não foram plenamente eficazes?

Em agosto de 2018, as autoridades da República Democrática do Congo (RDC) declararam um surto de Ebola, que se tornou o maior da história do país. A epidemia se espalhou por comunidades das províncias de Kivu do Norte e Ituri, que já haviam sido afetadas por décadas de conflito armado. Dessa vez, parecia que estávamos mais bem preparados do que em surtos de Ebola anteriores. Havia novas ferramentas que talvez pudessem dar um fim mais rápido ao surto: duas vacinas e dois medicamentos terapêuticos. Desde o início, tínhamos uma vacina com eficácia comprovada. Durante o surto, Médicos Sem Fronteiras (MSF) participou de um ensaio clínico que determinou a eficácia dos dois novos medicamentos para tratar a doença, e testamos uma segunda nova vacina, a fim de reduzir a transmissão. Contudo, apesar da eficácia comprovada das novas ferramentas, duas em cada três pessoas com Ebola morreram, e o vírus continuou a se espalhar por mais de 18 meses. Nem todos foram atendidos por aqueles que respondiam à epidemia. Em alguns momentos, mais da metade das mortes relacionadas com o Ebola estavam ocorrendo nas comunidades. As pessoas sequer chegavam aos centros de tratamento de Ebola (CTEs) ou chegavam tarde demais, quando os tratamentos eram menos propensos a impedir um resultado fatal.

Sem conquistar a confiança da comunidade, a resposta geral foi tida como hostil pelas pessoas. Frequentemente, era oferecido aos pacientes tratamento em isolamento, longe de suas famílias. Considerando que as pessoas percebiam que a taxa de mortalidade nos CTEs era alta, para muitas a assistência médica proposta não era suficientemente encorajadora.

Nas províncias de Kivu do Norte e Ituri, o Ebola geralmente não é a principal prioridade de saúde. A população enfrenta outras doenças mortais, como sarampo, malária e desnutrição, além de um sistema de saúde sobrecarregado pelo conflito. A resposta de MSF e de outras organizações ao surto foi centrada no Ebola e absorveu muitos dos recursos já limitados, deixando pessoas sem tratamento para outras doenças graves.

Uma maneira importante de reduzir o número de pessoas infectadas é impedir a transmissão contínua por meio da vacinação. A estratégia implementada na RDC foi a vacinação de pessoas que mantiveram contato próximo com pacientes de Ebola e pessoas em contato com esses contatos. Apesar da eficácia da vacina, rastrear os contatos se mostrou difícil na prática. Havia menos pessoas elegíveis para receber a vacinação, limitando, assim, a eficácia da estratégia de vacinação direcionada. O fornecimento limitado da vacina também afetou a implementação da estratégia, e seu status como não registrada tornou a vacinação uma atividade muito demorada. Em princípio, a estratégia de vacinação direcionada não impediu a disseminação do vírus com rapidez suficiente. Inicialmente, nós nos concentramos na vacinação de profissionais da linha de frente. À medida que o surto continuava, defendemos uma estratégia adaptada, que alcançasse mais pessoas.

Como resolver esses problemas?

Progressivamente, nos afastamos das abordagens centradas no Ebola para nos concentrarmos nas necessidades gerais das comunidades. Isso inclui descentralizar a triagem do Ebola para os centros de saúde de MSF já existentes, a fim de que os cuidados estejam mais próximos das comunidades. Além disso, realizamos mais atividades de conscientização e divulgação de nossos serviços.

Também precisamos atender às necessidades específicas do paciente, em vez de tratar todos da mesma maneira. Para alguns, pode ser possível fornecer atendimento domiciliar; outros poderiam ser tratados em unidades de saúde menores, mais próximas de onde moram. Algumas pessoas em risco de infecção podem se beneficiar do uso imediato de profilaxia pós-exposição, enquanto outras podem precisar ir a um centro de saúde regularmente.

Em termos de prevenção durante um surto, também devemos facilitar o desenvolvimento e o teste de mais vacinas e diversas estratégias de vacinação, adaptadas ao contexto e atendendo às expectativas da comunidade. As vacinas devem ser fáceis de serem aplicadas no contexto de um surto, com licenciamento acelerado, se necessário, enquanto a estratégia de vacinação deve facilitar o acesso daqueles que precisam. Para responder melhor a futuros surtos de Ebola, as estratégias de resposta médica não devem ser vistas sozinhas. Abordagens centradas no paciente, envolvimento da comunidade e mobilização social são fundamentais.

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