Direto de Aquidauana

A pandemia de COVID-19 chegou à região de Aquidauana, no estado do Mato Grosso do Sul, no fim de junho, atingindo principalmente aldeias indígenas da etnia terena. O polo local do distrito de saúde é responsável por atender mais de 7 mil indígenas. Lá, onde já ocorriam problemas crônicos na atenção básica em saúde, o vírus encontrou as portas abertas para adentrar facilmente as comunidades e causar muito sofrimento.

Enquanto aguardávamos autorização para Médicos Sem Fronteiras (MSF) atuar nas aldeias, trabalhamos em uma clínica móvel de Aquidauana, em parceria com a vigilância epidemiológica do município, para fazer visitas domiciliares e acompanhar o quadro clínico dos pacientes com o novo coronavírus que estavam em isolamento. Demos suporte para reorganizar o fluxo de atendimento aos pacientes e realizamos treinamentos para as equipes de saúde locais.

Fomos autorizados a realizar atendimento médico nas aldeias 15 dias depois de nossa chegada à cidade. Recebemos a notícia com uma sensação de alívio e felicidade, mas também com preocupação, por causa da situação da pandemia naquele momento. Focamos nossos esforços em tentar minimizar os danos dessa espera. Os relatos dos caciques e profissionais de saúde sobre os efeitos da pandemia eram de muita dor e aflição: “Perdemos parentes e amigos, perdemos nossos anciãos”, “não podemos nos despedir dos nossos parentes”, “não tenho um paracetamol para dar aos meus pacientes”, “não recebemos treinamento, não deu tempo e, quando vimos, todos estavam doentes, não tínhamos equipamentos de proteção suficientes”.

A população e os profissionais de saúde estavam mentalmente exaustos pelas perdas e pelo isolamento social, e com sequelas deixadas pela doença, sendo necessário atendimento psicológico para muitas pessoas com sintomas depressivos, ansiedade e risco de suicídio. Doenças crônicas preexistentes, como hipertensão e diabetes, estavam descontroladas, sobrecarregando o escasso sistema de saúde local.

Em parceria com a equipe de saúde local, definimos o plano de ação e a estruturação do fluxo de atendimento naquele contexto. Iniciamos os atendimentos domiciliares aos pacientes isolados e a busca ativa de novos casos suspeitos em 11 aldeias da região por meio de três clínicas móveis. Referenciamos pacientes para tratamento hospitalar, realizamos atividades de promoção de saúde, assim como capacitação para as equipes que já atuavam no local.

O trabalho foi intenso, mas gratificante. Finalizá-lo com o relato dos indígenas e dos profissionais do município sobre o alívio que conseguimos proporcionar nos deixa com a certeza de que cumprimos nosso objetivo e de que o conhecimento que deixamos os ajudou a se fortalecer para enfrentar futuros desafios.

 

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