Migração nas Américas

Durante as duas últimas décadas, a migração na América do Sul foi principalmente de caráter regional. Violência, violações dos direitos humanos, insegurança, empobrecimento, desigualdade social, lento crescimento econômico, falta de empregos dignos, necessidades do mercado de trabalho nos países de destino, instabilidade política, impacto da pandemia da COVID-19, desastres naturais, degradação ambiental, mudanças climáticas e laços familiares são alguns dos fatores que impulsionam esse fenômeno, levando migrantes e refugiados a se mudar para outro lugar na sub-região. Os números da migração interregional cresceram significativamente, com movimento de quase 7 milhões de venezuelanos que deixaram seu país desde o início da crise, enquanto 6 milhões deles residem em algum lugar da América do Sul.

No entanto, apesar de ser o maior, certamente esse não é o único grupo que se desloca pelo continente. Em razão dos mesmos fatores mencionados, outras populações estão deixando suas casas pela primeira, segunda ou mais vezes após uma tentativa de se estabelecer em outro lugar. Como consequência da pandemia, as oportunidades de emprego diminuíram na América do Sul, deixando muitos migrantes da primeira onda desempregados e forçados a migrar novamente. É o caso dos haitianos, por exemplo, que se estabeleceram no Brasil e no Chile após o desastroso terremoto de 2010 e da violência generalizada no Haiti, e depois migraram uma segunda vez rumo aos Estados Unidos (EUA) como consequência da crise global gerada pela pandemia da COVID-19. Migrantes e refugiados que se estabeleceram nesses dois países também sofreram discriminação e xenofobia, o que representou outro motivo para deixarem sua segunda residência. Os haitianos se tornaram o segundo maior grupo em 2023 a atravessar a selva de Darién. No ano anterior, eles eram o terceiro grupo na travessia, atrás dos venezuelanos, em primeiro, e dos equatorianos, em segundo — esses últimos estão se deslocando em massa por causa da violência que assola o país e que levou a taxa de homicídios a dobrar em um ano.

A selva de Darién é uma floresta muito perigosa e fechada que os migrantes precisam atravessar da Colômbia para chegar ao Panamá e continuar a jornada em direção ao norte do continente, o principal destino de migrantes e refugiados nas Américas. Em 2022, houve cerca de 250 mil entradas irregulares no Panamá através desse perigoso trecho de selva, e a previsão para 2023 é de que o número deve quase dobrar, chegando a 400 mil. Desde o início do ano, 100 mil pessoas já cruzaram a floresta. Outras rotas atuais incluem populações migrantes do Caribe (além de haitianos, cubanos e dominicanos), que se deslocam por países da América Central, como Nicarágua e Honduras.

Enquanto a migração entre países do sul não é um fenômeno recente na região, houve um aumento significativo na migração vinda da África e da Ásia durante a primeira década do século XXI, como resultado de políticas cada vez mais restritivas na Europa e na América do Norte, juntamente com posições liberais sobre requerimentos de visto em alguns países sul-americanos. No ano passado, 11% dos refugiados que cruzaram a selva de Darién eram de países africanos ou asiáticos. Os migrantes e refugiados que vêm de outras regiões tendem a ser ainda mais vulneráveis, por causa dos maiores desafios no acesso ao status de migração regular, bem como pelas barreiras linguísticas e culturais, entre outros motivos.

A migração na América Latina é amplamente caracterizada por fluxos mistos, movimentos populacionais que incluem refugiados, solicitantes de asilo, migrantes econômicos, migrantes climáticos e outros. Essa variedade apresenta desafios específicos na concepção e na entrega de respostas operacionais apropriadas a cada uma dessas populações, por causa da variedade de perfis e das razões múltiplas e complexas pelas quais os migrantes e refugiados estão realizando suas jornadas.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) trabalha ativamente para garantir o acesso à saúde das pessoas em movimento tanto na América Latina quanto em outras regiões do mundo por meio da prestação de serviços personalizados ao longo das rotas de migração. Migrar é um direito humano!

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