ANA DE LEMOS - DIRETORA-EXECUTIVA DE MSF-BRASIL

O ano 2020 foi difícil para todos. Espero que você e sua família estejam passando por este momento tão desafiador da melhor forma possível.

Como organização médico-humanitária, vimo-nos enfrentando uma pandemia que exigiu respostas sem precedentes. Tivemos que adaptar nossos projetos nos mais de 70 países em que trabalhamos para, sempre que possível, manter o atendimento médico já tão necessário, ao mesmo tempo que ampliávamos nossas atividades para cuidar de pacientes com o novo coronavírus. Trabalhamos também em uma escala inédita em países com sistemas de saúde desenvolvidos, mas que não foram capazes de responder sozinhos à chegada em
massa de pessoas com complicações decorrentes da doença.

BRASIL © Mariana Abdalla/MSF

O Brasil recebeu uma das maiores respostas de emergência de Médicos Sem Fronteiras (MSF) à COVID-19.Por isso, decidimos dedicar esta edição da revista para falar sobre nossas atividades de combate ao novo coronavírus no país. Trabalhamos em sete estados e contamos com profissionais brasileiros e estrangeiros para levar atendimento médico e de saúde mental, assim como informações sobre prevenção, às populações mais vulneráveis. Um pilar fundamental de nossa atuação foi o treinamento de profissionais de saúde locais, cujo resultado fica como legado mesmo depois do encerramento das atividades de MSF. Na entrevista com a coordenadora-geral dos projetos de resposta à COVID-19 no Brasil, Dounia Dekhili, ela fala sobre os principais desafios enfrentados. Um deles foi entender as demandas crescentes de saúde mental que surgiam durante consultas médicas e conversas com as equipes de saúde dos municípios emque atuamos. A psicóloga Nádia Marini aborda esse tema em seu artigo. Já a enfermeira Erica Cravo narra, na seção “Direto de”, sua experiência coordenando as clínicas móveis que atenderam a população de aldeias indígenas no Mato Grosso do Sul.

Em novembro, recebemos a notícia de que a COVID-19 havia tirado quase 1,5 milhão de vidas em todo o mundo. Mais de 170 mil dessas mortes ocorreram no Brasil. Sabemos que muitas delas seriam inevitáveis em uma situação como essa, em que ainda conhecemos pouco uma doença tão contagiosa, com hospitais precisando trabalhar acima de sua capacidade. Porém, houve mortes que poderiam ter sido evitadas, fosse com respostas médicas de emergência mais rápidas e eficientes, fosse com a divulgação clara de informações
importantes, baseadas em evidências científicas, para evitar a disseminação do vírus. Esperamos que organizações médicas, assim como governos, possam tirar lições valiosas sobre como atuar melhor em epidemias futuras. Não podemos nunca esquecer que, em casos como esses, o preço da lentidão na resposta e da negligência é cobrado em número de vidas.
O novo cenário mundial impôs grandes restrições a todos nós e sabemos que isso afetou inclusive a renda de muitas famílias. Muito obrigada por continuar contribuindo para que possamos levar ajuda médico-humanitária aos que mais precisam de nosso apoio.

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